Essa frase aparece umas três vezes no filme brasileiro Fica comigo esta noite. O que me deixa meio desconfortável é o uso dos dois se's. Concordo que nunca se deixou amar poderia significar que a pessoa nunca deu a si mesma o gosto de amar e o outro se dá ao verbo a ideia de voz passiva, mas mesmo assim me parece uma construção anômala pela repetição do se. Talvez o menos controverso seria dizer um simples nunca se deixou ser amado, nunca deixou/permitiu/autorizou que o amassem, que perderiam em literariedade e sensibilidade (ou se o português fosse como o alemão: literarie- e sensibilidade), mas não dariam azo a dúvidas. Esta é uma pergunta à qual infelizmente não tenho resposta. Talvez seja possível, já que o infinitivo mais se em português substituiu o infinitivo passivo em latim, amari. Nas línguas escandinavas bastaria um s para tornar o verbo passivo: älska/elske (amar em sueco e dinamarquês, respectivamente) e älskas/elskes (amar-se ou ser amado).
Talvez pudesse ser traçado um paralelo com os verbos causativos (deixar, fazer, etc.) mais o pronome reflexivo: eu o fiz/deixei sentar-se/ele me fez/deixou sentar-me?, melhor: ele me fez/deixou sentar, em que se dá a supressão do segundo me. Mas se suprimirmos aquele se, desapareceria a voz passiva e a frase seria ambígua. Parece que não há uma solução simples para esta frase.
Word of the Day
beatitude | |
Definition: | Supreme blessedness or happiness. |
Synonyms: | blessedness, beatification |
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