Word of the Day

Friday, October 26, 2007

Guspir

Depois de alguns anos sem ir ao dentista, tomei vergonha na cara e dirigi-me à tão temida cadeira para preencher uma cratera que se havia formado no meu dente. Estar lá com a boca aberta e com a língua para fora fez-me pensar em outra língua: a portuguesa. A dentista durante toda a minha consulta pronunciou a palavra cuspir, que ela deve pronunciar centenas de vezes por dia, guspir (pode guspir, pode guspir, pode guspir). É claro que já tinha ouvido essa articulação a incautos, mas não o esperava de uma profissional dos dentes, que afinal fez uma boa faculdade (ou pelo menos supõe-se e/ou espera-se). A língua portuguesa, assim como a espanhola, de certo tende à sonorização (é por isso que o latim amicus virou amigo em português e em espanhol), mas isso só ocorre entre vogais, nunca no início da palavra. O que está em jogo aqui é algo muito mais poderoso que não consigo compreender. Imagino alguém que quer saber como se diz guspir em outra lingua e não acha no dicionário, simplesmente porque a palavra oficialmente não é assim (e se depender de mim, que permaneça na ilegalidade por um bom tempo).

Thursday, October 25, 2007

Solicitamos aguarde

Ao esperar na linha para comprar a minha passagem de avião para Europa (finalmente a Europa!), ouvi uma gravação com uma construção que nunca encontrara antes na língua falada: Solicitamos aguarde. Imediatamente chamou-me a atenção a ausência da conjunção integrante que, a que estamos acostumados. Uns instantes depois lembrei-me nos rincões mais recônditos da minha de ter lido algo a respeito, e após desempoeirar um velho livro de gramática portuguesa, achei:

A língua portuguesa permite, em alguns casos, silenciar a integrante que:
Não cuideis seja a masmorra
Não cuideis seja o degredo
(C. Meireles, OP, 862).

Em geral, a omissão da integrante é possível depois de certos verbos que exprimem ordem, desejo, pedido ou súplica: mandar, ordenar, querer, esperar, pedir, solicitar (negrito meu), rogar, suplicar, etc.

Essa supressão é própria da língua inglesa e de outras línguas germânicas, que o fazem sem o menor pejo, e também é encontradiça no espanhol (com restrições) e no italiano (bem mais freqüentemente). Talvez tenha colaborado para o aparecimento dessa construção o fato de a companhia aérea ser espanhola e haver uma gravação também em espanhol, que pode ter "contaminado" a tradução em português, mas neste caso de forma positiva e bastante literária.

Wednesday, October 24, 2007

have forbade

I learned that the past participle of forbid is forbidden (and sometimes forbid) and that is what most websites on the English language tell you, but I've found an instance of forbade as a past participle in an article about swearing by Steven Pinker that caught my eyes:

Cultural conservatives were outraged (that the Federal Communications Commission hadn't sanctioned NBC for not bleeping out the word fucking pronounced by Bono on the Golden Globe Awards). California Representatives Doug Ose tried to close the loophole in the FCC's regulations with the filthies piece of legislation ever considered by Congress. Had it passed, the Clean Airwaves Act would have forbade from broadcast (and he reels off a string of words...)

None of my references tell me that usage is okay (and sounds odd to me) but examples on Google abound by the thousands, but Google itself recommends you try have forbid, has forbid and had forbid when you key in have forbade, has forbade and had forbade, respectively, suggesting it is a misspelling. Have/has/had forbidden still is the victor, though, and I hope it goes on like this for many decades to come.

Saturday, October 13, 2007

Have shrunken

A construction I encountered in the great read The language instinct, by Steven Pinker, struck me as odd. Here it is:

The various parts can be grotesquely distorted or stunted across animals: a bat's wing is a hand, a hortse trots on its middle toes, a whales' forelimbs have become flippers and this hindlimbs have shrunken to invisible nubs...

Here is what the Merriam-Webster's Dictionary of Contemporary English Usage says about shrunken:

Shrunk
and shrunken are both used as the past participle of shrink. Shrunk is the usual choice when the participle is functioning as a verb:

... the lake has shrunk to a mirage of shimmering blue - William Kittredge, Fiction, vol. 1, no. 3, 1973

Or had they only shrunk? - Wilfrid Sheed, The Good Word and Other Words, 19787

Shrunken is the usual choice when the participle is functioning as a an adjective:

... a somewhat shrunken functionary, barely worth a book - Wilfrid Sheed, The Good Word and Other Words, 1978

... a frail and shrunken fragment of the old dream - Mavis Gallant, N.Y. Times Book Rev., 11 May 1983

So according to this book, using shrunk as the author did is unusual, to which I agree. I'd never seen it used like that before, not that that means anything.

Thursday, October 11, 2007

Hipercorreção em colocação pronominal

Brasileiro não se dá muito bem com os pronomes mesmo, pelo menos no que se refere à língua padrão. Hoje no banco fiquei surpreso com duas coisas: a primeira que a caixa eletrônica que ia usar não estava funcionando e a segunda é que o aviso que tinham colocado era mais ou menos assim: Comunicamos que este terminal eletrônico encontra-se temporariamente fora de serviço. A ênclise, por parecer mais elegante ao brasileiro médio, que raramente a emprega na fala, aí se enfiltra de uma maneira pouco ortodoxa. Não se usa a ênclise com a palavra que, que pode ser conjunção integrante, pronome interrogativo ou pronome relativo, o que as nossas professoras de gramática cansam de nos dizer. Ia alertar o pessoal do banco, que afinal de contas é a maior instituição financeira pública do País e tem como obrigação salvaguardar a língua nacional, mas confinado naquela sala em que a presença de meros clientes como eu parece não ser muito bem-vinda, havia somente um segurança, que tenho as minhas dúvidas se teria passado adiante o meu recado.