Word of the Day

Monday, June 25, 2007

A caixa

Não, não estou a referir-me ao receptáculo onde muitos de nós colocamos tantas coisas. Refiro-me à pessoa do sexo feminino cuja função é registrar os produtos comprados em um supermercado, por exemplo, receber o dinheiro referente às compras e devolver ao cliente o eventual troco.

Sempre escrevo sobre aquilo que percebo na linguagem dos outros, mas hoje vou escrever sobre algo que pronunciei há alguns dias. Veio-me assim espontaneamente a caixa para me referir à mulher que me tinha atendido naquele dia. Repeti a palavra umas duas vezes e apercebi-me daquilo que estava dizendo, mas o meu interlocutor, por não ser tão atento a estas questões como eu, nada disse (ou se pensou, resolveu calar-se).

Eu tinha de alguma forma internalizado que a palavra caixa é substantivo feminino quando se trata do recipiente e masculino sempre (o caixa) quando se está falando da pessoa, homem ou mulher, que exerce essa função. Acontece que a língua portuguesa tende à explicitação despudorada do gênero/sexo, muito mais do que as suas línguas irmãs quando se trata de profissões, daí eu ter empregado a palavra da forma como o fiz. Felizmente acabo de descobrir que o meu uso (que não deve ser minoritário) está registrado oficialmente, como se pode ver no famoso dicionário Houaiss, disponível em linha.

Thursday, June 21, 2007

Esmero

Escutando depois de longos anos a canção A Casa, de Vinicius de Moraes, dei-me conta do por que eu ter pronunciado erroneamente por quase toda a minha vida a palavra esmero. A primeira vez que ouvi a palavra foi na música A Casa, e eu, que não conhecia a palavra, peguei a pronúncia que ouvi, que tem o E aberto em vez do correto fechado. É possível que tenham gravado esmero propositadamente com o E aberto para rimar com zero que vem logo a seguir, ou o próprio autor, não sabendo da pronúncia correta da palavra, fê-la rimar com o algarismo que todos corretamente pronunciam com o timbre aberto.

Monday, June 18, 2007

Chego; o pipa

Parece que o tal do chego como particípio passado, uso que não lhe corresponde, chegou para ficar. Até um tempo atrás, não se ouvia falar nele, mas parece que agora é só o que dizem. Hoje fizemos na escola uma pesquisa informal em que os participantes tinham de decidir qual era o correto: já tinha chego e já tinha chegado e apenas 4 pessoas de 15 deram a resposta correta (três professoras). Lamentável! O pior é que são 99% crianças e adolescentes que provêm de boas famílias, que estudam em escolas particulares, não são gente de favela. Ainda estou inconformado! E o pior é que me lembro que a primeira pessoa a quem ouvi o mal fadado chego é sangue do meu sangue, uma prima minha, uns três anos atrás. Até então meus ouvidos não conheciam esse aborto lingüístico.

Outra coisa que me espanta muito ouvir atualmente é o pipa/meu pipa. Quando eu era criança, todos dizíamos, e com razão, a pipa, mas da minha infância até aqui parece que tanta água já rolou que até lhe trocaram o gênero à pipa. Pergunto-me se estas duas monstrosidades têm alcance nacional ou mesmo estadual. Com a globalização em que vivemos atualmente, não me surpreenderia que alguém já tenha "exportado" essas novidades.

Sunday, June 17, 2007

Não temeis

Não há absolutamente nada de errado com o título desta postagem. Acontece que esta frase, neste tempo verbal, se encontra no presente do indicativo, e não no imperativo negativo de vós (não temais), tomado do presente do subjuntivo (que eu tema, que tu temas, etc.), que foi o que o quis dizer o Príncipe Encantado do filme Shrek Terceiro, que vi hoje na cidade de Bauru. Cidade que por sinal já começa "bem" lingüisticamente desejando às pessoas que chegam um Bem vindo à Bauru (sic), sem hífen e com um acento grave que sobeja.

Friday, June 8, 2007

Daqui

Hoje na frente de um edifício vi algo como Pague o seu empréstimo daqui 90 dias. Acho que não é a primeira vez que vejo daqui usado como preposição, como é o caso nessa frase, mas não me lembro de o ter ouvido assim tão freqüentemente. A palavra daqui, advérbio que é, formado da preposição de mais o advérbio aqui, parece ter sido reinterpretada como preposição, o que dispensaria o uso do a, que seria necessário aqui, pelo menos oficialmente.

Thursday, June 7, 2007

Garçonete

Today while talking to someone who is learning Portuguese, I heard the word garçonete, which gave me lots of food for thought. Here's what I think about it:
Garçonete is the Portuguese feminine of garçom, waiter. Garçom comes from French garçon, boy, whose feminine form is (jeune) fille. What happened is that we Portuguese speakers added the French suffix -ette adapted to -ete to conform to Portuguese spelling rules to a word that in French could never accept such a suffix, for an existing different already exists. Thinking about this, I remembered what I've heard in English sometimes (and which I don't care for), usherette. That's a French suffix on a word that's not French! That's how languages work, I guess, lending to and borrowing from one another shamelessly.
I remember reading some time ago that some purists in the Portuguese language suggested garçoa ages ago as the feminine form of garçom, but obviously (and to my displeasure) that form didn't catch on.

Voz passiva com verbo transitivo indireto

Sempre se soube e sempre se repetiu nas aulas de gramática na escola que não é possível em português a voz passiva de verbos transitivos indiretos, com que concordo plenamente. Entretanto, ultimamente têm-se visto muitos exemplos de verbos que cumprem essa condição usados na voz passiva. Hoje mesmo li algo como Perguntado sobre o aquecimento global, o presidente dos Estados George Bush, etc. Pergunta-se algo a alguém, a pessoa é objeto indireto, logo essa frase não é/seria possível da forma que a redigiram. Acho que isso se pode explicar por influência da língua inglesa, que, pelo que me consta, só não aceita a voz passiva com verbos intransitos. Em português teria sido mais adequado Quando perguntaram ao presidente George Bush sobre blá-blá-blá.

Edição: Pensando bem, é também possível que haja uma analogia com verbos semanticamente parecidos como indagar e questionar, que por serem transitivos diretos, admitem a voz passiva.

Tuesday, June 5, 2007

Suporte técnico

Já falei várias vezes das traduções muitas vezes mal feitas ou feitas às pressas, mas muitas dessas traduções parece que chegaram para ficar. É o caso de suporte técnico. Suporte técnico é a tradução literal do inglês technical support, mas ocorre que support em inglês não equivale a suporte em português. Support é, primordialmente, apoio, então seria mais português dizer apoio técnico, assistência/ajuda técnica, mas será que ainda há tempo? Poderiam argumentar que a assistência técnica se refere ao local físico aonde se levam aparelhos defeituosos para que se proceda ao seu reparo e o suporte técnico é um número que chamamos para sermos auxiliados por telefone em caso de problemas com as geringonças que poluem o nosso ambiente doméstico, mas sinceramente, eu acho tal diferenciação irrevelante e doeria menos à língua portuguesa se se deixasse de lado.

Monday, June 4, 2007

Ortografia catalana

No he mai comprès perquè en català s'escriuen coses com morfosintàctica amb una s. Tothom sap que una s sola entre dues vocals ha de pronunciar-se com z, però en aquest mot i en molts altres no és aquest el cas. Potser perquè aquí es tracta d'una paraula composta? Si qualcom té la resposta, si us plau, que me la faci arribar.

Sunday, June 3, 2007

On the Internet

Why aren't languages consistent as to what preposition to use with the word Internet? Some go in: Portuguese na Internet, Spanish en Internet, Polish w Internecie, Russian в Интернете, German im Internet; others go on: Czech na Internetu, English on the Internet, Dutch op Internet, Italian su Internet, Swedish på Internet? Why do some consider Internet something comfy where things are snuggly nested in, whereas others consider it a boring surface where all sorts of stuff can be found?

Superbem

É possível que você, assim como eu, ao ver a palavra do título a tenha lido supérbem. E por quê? Simplesmente porque as palavras terminadas em -em são paroxítonas, ou seja, acentuadas na penúltimas sílaba, veja o caso de comem, bebem, fazem, bebem, etc. Mas não é o caso aqui. Veja o que acabo de ler na revista Época desta semana, num artigo que fala da timidez:

Em vez de achar que a baixa auto-estima é uma maldição - e tentar desesperadamente inflá-la a níveis estratosféricos para que todos se sintam superbem consigo próprios o tempo inteiro -, deveríamos perceber que ela pode servir de medida para apontar como estamos nos saindo em nossos contatos sociais.

O prefixo latino super é empregado em português coloquial (e espanhol também) como advérbio de intensidade, semelhante a um muito. Como advérbio de intensidade, deveria ser escrito separado do adjetivo ou advérbio que acompanha por ser palavra autônoma. Como é paroxítona terminada em r, deve levar um acento (súper bem), mas o fato é que a gramática ainda não deu conta do super com esse valor e por isso não se pronunciou a respeito. Mas se quiserem, podem usar a minha constatação e não precisam pagar direitos autorais.

Sarau jantante

Meu amigo convidou-me para um sarau jantante, que é uma ocasião em que as pessoas ouvem música, lêem poesias e participam de outras manifestações culturais enquanto jantam, e não poderia ter-me passado despercebido o tal jantante. A terminação portuguesa -ante remonta ao particípio presente latino em -ns, genitivo -ntis, que era usado com valor ativo em orações de plano semântico semelhante às adjetivas: homines laborantes = homines qui laborant (homens que trabalham). Por ter significado ativo, isso implicava que a palavra à qual se referia o particípio presente fazia as vezes de sujeito, e é aí que quero chegar. Como é possível que um sarau, substantivo inanimado, jante? Logicamente isso não é possível, mas a analogia com outros adjetivos terminados em -ante fez com que se perdesse a noção original dessa classe de palavras. Fenômeno semelhante acontece no Brasil quando se empregam palavras como vestibulando ou formando. Esse ando é o que chamamos de gerúndio, que deriva do gerundivo latino, que originalmente tinha valor passivo (contrariamente ao particípio presente, como já vimos). Uma expressão comuníssima que utiliza o gerundivo em latim é Delenda Carthago = Cartago deve ser destruída. O gerúndio em português, pelo menos em tese, só pode ser formado a partir de verbos, mas existe o verbo vestibular? Pelo que me consta não, mas já há vários anos há o substantivo vestibulando, aquele que vai prestar vestibular. Da mesma forma, por que não se criou vestibulante, a par de estudante? São questões que acredito nunca encontrarão resposta. Formando, forma nominal do verbo formar (-se), passou a substantivo, mas tal passagem sempre foi possível de infinitivo para substantivo, a chamada derivação imprópria: O fumar faz mal à saúde.

Coisas da língua.