Word of the Day

Sunday, January 28, 2007

Beijar-se com alguém

Não sei se é um uso esporádico ou acidental (creio que não), mas hoje ouvi num filme brasileiro E se fosse você, estrelando Tony Ramos e Glória Pires, cujos personagens, devido a um alinhamento entre a Terra e Marte, passam a ocupar o corpo do outro, uma frase que me chamou a atenção, fulano estava se beijando com beltrano, em vez do comuníssimo fulano estava beijando beltrano. Chamaram-me a atenção tanto o pronome se, que tem aí uma função reflexiva, já que o beijo "vai e volta", quanto a preposição com, que indica quase sempre companhia, aí a referir-se a duas bocas que se tocam. Talvez tenha sido feita alguma associação com casar(-se) com alguém ou o brasileirismo, ainda muitas vezes condenado nos livros de gramática no capítulo de regência verbal, namorar com alguém. O que mais me espanta é que tal frase é produto de alguém que a inventou e que a escreveu, portanto não se trata de um simples deslize. O mister do autor, quando se trata de diálogos, é captar a linguagem coloquial, mas tenho minhas dúvidas se tal construção, para mim tão estranha, se usa no colóquio normal.

As Galápagos

Hoje lendo uma reportagem sobre uma tartaruga gigante solitária nas ilhas Galápagos, constantemente me deparei com a construção as Galápagos, que deve ter aparecido umas dez vezes. Todas as vezes que tinha ouvido referirem-se a esse arquipélago, famoso pelas investigações de Charles Darwin, naturalista inglês autor de A origem das espécies, sempre ouvia as ilhas Galápagos, razão pela qual me estranhou ver o apelativo desprovido da sua especificação geológica. O que me impressionou é a (falta de) concordância entre as, artigo definido plural, e Galápagos, palavra masculina plural, que provém do vocábulo espanhol galápago, cágado. Apesar do meu estranhamento inicial, agora acho que me convenci de que essa é a melhor concordância, por estar subentendida a palavra ilhas. Os Galápagos, pensando bem, só se poderia referir aos animais, mais não nessa mescla de português e espanhol.

Sunday, January 21, 2007

Castle or lock?

Why is it that many languages have the same word for two totally different concepts, castle and lock? German has Schloss, Dutch, slot, Polish, zamek and Czech, zámek. Russian is interesting in this respect. If you accent it on the first syllable, замок means castle. If you accent the second, замок means lock.

French-borrowed words in Portuguese and Spanish

Traditional we have kept the same French gender (masculine - le, feminine - la) in words that Portuguese has borrowed from that tongue and, if the word is masculine, we change the final French e to o and if the word is feminine, we change it to a. But recently it has been a trend to keep the same ending in Brazilian Portuguese (at least), which means keeping the French e with the original gender. We have thus words such as a cabine (from la cabine), much more common than the more Portuguese a cabina and a equipe. It is interesting to note, however, that this word has followed its traditional path in Portugal, where it is a equipa. It should be the same in Brazil, but for some reason, it is not. It seems as though traditions are being more and more ignored nowadays, as can be seen in suinocultura. I wonder if that's something positive or negative.

On another note, Spanish has followed a weird path for l'équipe (feminine) and transformed it into el equipo. It should have become la equipa. I guess fewer and fewer people nowadays have a smattering of French and just assign whatever gender they please to new words taken from French or associate them with similar concepts and give them the same gender. That could be an explanation.

Sunday, January 7, 2007

Japanese Aorist?

I am beginning to think that Japanese has an Aorist-like tense in addition to the much-talked-about unmarked form vs. perfect. Compare the following pair.

I. 猫は/が、川を渡る。
  1. neko-wa/ga kawa-o wataru.
  2. cat-TOPIC/NOM river-ACC cross
II. 猫、川を渡る。
  1. neko kawa-o wataru
  2. cat river-ACC cross
Two sentences look the same but the former means, "The/A cat crosses the/a river" and the latter, "The/A cat crossed the/a river." The simple lack of postposition for the subject noun in the latter describes the action of the sentence as an objective event that happened in the past with little relationship to the present. This construction is often employed in newspaper titles. I would not consider it is far-fetched to see a phenomenon quite similar to what is called aorist in Indo-European syntax.

In fact, the two wataru's manifest morphological difference as below;
I' OK neko-wa/ga kawa-o wataru-yo.
II' * neko kawa-o wataru-yo.
where -yo adds to a sentence a spin to make the hearer take heed for a piece of new information. The whole sentence I' translates into, "Hey look, a cat crosses the river."

The aorist wataru cannot take a modality particle.

Saturday, January 6, 2007

suinocultor

Em um artigo da Wikipédia em português sobre picanha, lê-se "Recentemente, o aumento da variedade de cortes de carnes suínas originado de ações promovidas pelos suinucultures, fez surgir um novo corte para os admiradores deste tipo de carne, que recebeu o nome de picanha suína". Suinucultures? pergunto-vos (nem vou falar daquela vírgula indevida depois de "suinucultores"). Como é possível que uma palavra composta por aglutinação tenha um substantivo/adjetivo terminado em u no primeiro elemento que a compõe? Isso vai contra a tradição em língua portuguesa. Note-se que as palavras terminadas em cultor são todas de feição erudita cujo primeiro elemento remete imediatamente ao termo latino que delimita o sentido do composto. É por isso que temos apicultor para quem cuida de abelhas (apis em latim, abelha), piscicultor para quem trabalha com peixes (piscis em latim, peixe), agricultor para quem lida com a terra (ager, agris em latim, terra). Tanto Google com 14 600 ocorrências quanto meu dicionário Aurélio recolhem suinocultor (mas este não diz nada em relação a suinucultor). Mas será que o dicionário fez bem em recolher tal termo? Volta-se à questão se um dicionário deve simplesmente registrar um termo usado pelo povo ou se deve ditar lei. Na minha opinião, é função do dicionário registrar as palavras, pois alguém que não conhece determinado vocábulo recorre a ele em hora de dúvida, mas também não haveria mal nenhum se houvesse notas aconselhando ou desaconselhando o uso de determinada palavra, pois assim a pessoa interessada no uso culto da língua a incorporaria ou a rechaçaria. Voltando à vaca fria, já que estamos falando de animais, seguindo o exemplo de piscicultor, apicultor, agricultor e de tantos outros termos que terminam no genitivo latino menos o s, deveria ter-se criado suicultor em português, de sus (porco, suíno) em latim, genitivo suis. Mas é claro que não se há de esperar rudimentos de latim com alguém que está preocupado com tudo, menos com a nossa língua-mãe.

Thursday, January 4, 2007

To be and to eat

Some languages must have been up to something when they created similar words for to eat and to be. German essen (to eat) goes isst (old spelling: ißt) in third person singular, which is a homophone with ist (to be), also third person singular. Russian есть (is) , pronounced est', has the same form as the verb to eat, есть. In Slovak, je is the third person singular both of the verb jesť (to eat) and byť (to be). Jest (is) in Polish is similar to Czech jíst (to eat). Latin es means both (thou) eatest and (thou) art, the difference being that thou art has a short e and thou eatest a long e.

All this talk reminds me of that old adage: edo ut vivam, non vivo ut edam ("I eat to live, I don't live to eat").

Wednesday, January 3, 2007

O bebê quer trocar

Today while I was sitting in a bakery enjoying a sandwich and a drink, somebody asked why the baby was crying, to which the mother replied, "O bebê quer trocar." (The baby wants changing.). This sentence at first surprised me, because the mother used the verb trocar intransitively in a sense that does not belong to it, at least not according to what my ear and my dictionary tell me. Trocar (to change) can be used transitively (you change something), with the preposition de or pronominally meaning to get changed/to change (clothes). She ascribed to that infinitive a passive meaning is found in a few languages whose infinitives can be easily converted to the passive, as is the case in Latin and the Scandinavian languages. Latin amare means to love, but amari means to be loved. Swedish älska and Danish elske mean to love, but Swedish älskas and Danish elskes mean to be loved. These three languages do not use an auxiliary and a past participle as most languages do (and as English does) to make the passive voice, they simply change the infinitive. A similar phenomenon can be seen in English in the translation of the title of this post: The baby wants changing (or in some dialects: changed). Here I used the gerund form, also known as the -ing form, to mean The baby wants to be/get changed. If I were to give the sentence an active meaning, I would have said The baby wants to change, which doesn't make sense in English, by the way, but that's what that mother said in Portuguese. Another language that has a verb in the past participle, just like English wants changed, is Romanian, where it is possible to say Bebeul trebuie schimbat (The baby needs changed) as well as Bebeul trebuie să fie schimbat (The baby needs to be changed).

Tuesday, January 2, 2007

Cele multe semnificaţii ale "cravo"

Polisemie înseamnă folosirea unui termen care are o semnificaţie determinată de context. Azi când îmi făceam plimbarea, m-am dat seama de cele varie sensuri pe care le a substantivul portughez cravo. Cravo poate să însemne:

1.Clavecin
Meu filho aprendeu a tocar cravo. - Fiul meu a învăţat să cânte la clavecin.

2.Cuişoare
Não gosto de cravo na comida. - Nu-mi place cuişoarea în hrană.

3.Cui
Prenderam Jesus com um cravo à cruz. - Îl fixară pe Isus cu un cui la cruce.

4.Acnee
Aquele menino tem muitos cravos no rosto. - Acel băiat are multe acnei la chip.

5.Garoafă
Ele deu cravos à esposa. - El i-a dat garoafe ale soţiei.

Mă bucur că există polisemie. Fără ea am trebui să învăţăm şi folosim multe cuvinte. Polisemia contribuie la oarece economie în limbă, dar ea poate să l-inducă pe învăţătorul unei limbii străine în eroare. Îmi amintesc de un elev al unei colege mele care scrisese în compunerea lui că îi place să ia o mânecă la mic dejun, pentru că cuvântul portughez manga înseamnă atât mango cât şi mânecă. Mânecă a fost probabil prima traducere pe care a găsit-o în dicţionar şi a hotărât s-o folosească fără multă reflectare.

Monday, January 1, 2007

Imbróglio, googlar

Como é possível que lexicógrafos tenham aceitado a grafia imbróglio (do italiano imbroglio) se o grupo gl é pronunciado g + l, ao contrário do italiano, que muitas vezes o pronúncia como uma consoante palatal? Não faz sentido nenhum, muito menos acentuar esta palavra. O raciocínio que tiveram é : bom, já que se trata de palavra paroxítona terminada em ditongo, acento nela! Mas e o gl? Esse gl nos obrigaria a pronunciá-la im-bró-glio, mas ninguém o faz.

Outra palavra que vai dar pano para a manga é googlar. Que verbo horrível! Se dependesse de mim, nunca entraria na língua. Mas se entrar, melhor que o faça com uma roupagem portuguesa: guglar ou gugolar.