Word of the Day

Tuesday, July 24, 2012

Emissão de tíquete

Tudo bem que tíquete esteja admitido em dicionários como Priberam, Aulete e Houaiss, mas ao usar-se o anglicismo adaptado da forma ticket, deixa-se de usar palavras vernáculas como bilhete, ingresso, entrada e passagem, entre outros. No caso em apreço, tratando-se de um parquímetro, seria até muito mais elegante escrever emissão de comprovante do que emissão de tíquete.

Friday, July 20, 2012

Cappuccino

Na segunda edição da tradução do livro Os Prêmios, de Julio Cortázar, aparece uma nota de rodapé que me surpreendeu por a tradutora achar necessário explicar o que é um cappuccino:

Capucino (sic): café com pouco leite servido em copo grande.

Que remete a:
... onde se faziam pedidos tão extravagantes como capuchinos (sic), submarinos, sanduíches de lingüiça (viva o trema!) e garrafas de cerveja preta...

Faz sentido a tradutora ter usado a grafia espanhola capuchino, porque pela explicação dela a bebida não era conhecida no Brasil nessa época. O livro no original espanhol (argentino para ser mais preciso) é de 1969 e a tradução é de 1972.

Cappuccino, e a grafia com todas as consoantes, com um p e dois cc, com dois pp e um c e as mais variadas combinações, vê-se em várias partes do mundo. No Brasil parece que não houve ainda tentativa de aportuguesamento (ou seria melhor dizer abrasileiramento?) desta palavra, que é recolhida com a veste gráfica original italiana pelo Houaiss, por exemplo, que a data de 1981, nove anos após a tradução. Essa datação confirma que na década de 70 a bebida de fato não era conhecida no Brasil. No Portal da Língua Portuguesa, de Portugal, aparece o aportuguesamento capuchino, que ainda não tive o prazer de ver à solta, mas que se encontra abonado neste dicionário de Portugal.

Wednesday, July 18, 2012

Daonde?

Espero que alguém possa ajudar-me com esta questão que me tem atenazado já há algum tempo. O que devo responder quando me identifico ao telefone, explico o motivo do meu telefonema e a pessoa na outra linha repete o meu nome seguido de Daonde?, que nem sei se é junto ou separado, já que o correto é de onde ou donde? Não pode ser da onde, com espaço, porque da pressupõe que a palavra seguinte seja feminina, o que não é caso do pronome onde, por isso optei pela escrita daonde. Não sei se isso é comum em outras regiões ou se se restringe só à minha, interior de São Paulo, mas não aguento mais ouvir isso. Não sei o que responder! Já respondi "da minha casa", já dei o nome da minha rua, quando estou muito frustrado ou irritado tenho até vontade de dizer "da casa do car***o". E não adianta dizerem-me que o que querem saber é de que empresa estou ligando, porque eu não trabalho em empresa nenhuma. E mesmo se trabalhasse, que diferença faria?

E sem falar das vezes que me ligam e perguntam quem está falando com um lacônico "quem?" Não seria melhor a pessoa identificar-se primeiro? Ou no mínimo, no mínimo conceder-me mais três singelas palavras ao já mencionado quem, a saber: com, estou, falando, já que foi ela que me tirou do meu sossego?

Saturday, July 14, 2012

Dublagem do filme O Espetacular Homem-Aranha

Já fazia um bom tempo que não via filme dublado em português. Algumas coisas me chamaram a atenção: uma delas é que se referiram várias vezes a um peixe servido no jantar como branzino. Não sei o que aparece no original e é bem possível que branzino, que não encontro registrado em nenhum dicionário de português, mas sim neste de italiano, seja correto, mas para um público não composto de ictiologistas não é necessário ser tão preciso assim. Teria sido melhor usar uma variedade de peixe com que os espectadores se identificassem, como sardinha, tilápia, atum ou qualquer outro que vemos normalmente numa peixaria ou supermercado.

Outro exemplo de má tradução é quando Peter Parker chega a uma empresa e é recebido por uma senhora, que na tradução lhe diz Com licença em vez de algo como Pois não?, Em que posso ajudá-lo? ou Já foi atendido? É bem possível que o original tivesse Excuse me, pronunciado com um tom irritado, porque Peter Parker estava praticamente entrando no lugar sem autorização, mas Com licença em português não faz sentido nenhum.

Outro aspecto que me chamou bastante a atenção foi o uso exagerado do futuro do presente simples (mostrarei, faremos, dará, etc.) , que não usamos tanto na fala. Pareceu-me que toda vez que havia um will em inglês o traduziam com um futuro do presente simples, que o futuro do presente perifrástico teria substituído com vantagem (vou mostrar, vou fazer, vai dar, etc.).

Em certo ponto, Peter Parker conta à sua futura namorada que foi picado, ao que ela responde que também foi picada. É possível que no original ela tenha dito algo como I have been bitten para indicar seu interesse por Peter Parker, mas quem estava no cinema aquele dia irrompeu em risos como se a moça de 17 anos se tivesse referido a uma relação sexual.

Há também uma parte que menciona encanadores, não me lembro exatamente o que, mas algo como Encanadores não são baratos. Isso também não me soa nada natural, apesar de não ser necessariamente errado. No Brasil seria muito mais provável que disséssemos Encanador não é barato, sem artigo e no singular, ao contrário do inglês, que usaria aqui correntemente o plural: Plumbers are not cheap.

Muitos desses erros se teriam evitado se o tradutor tivesse visto o filme. É interessante que numa indústria bilionária como a cinematográfica se economize em tradução, não se deem todos os subsídios de que precisa o tradutor ou não se contrate alguém competente.

Thursday, July 12, 2012

Empichar

Acabamos de ver um desses acontecimentos. Há duas semanas, o senado paraguaio destituiu, cassou, “empichou” o presidente Lugo.

Procurei empichar em tudo que é dicionário e não encontrei. Notem-se as aspas, que indicam que o autor do texto tem consciência da facécia por trás dela. Procurando na Internet, encontrei isto e isto. Pelo que inferi, trata-se de um neologismo que significa destituir alguém através de um impeachment, anglicismo muito comum no Brasil. O interessante é que impeach vem da mesma raiz que o nosso impedir, de impedicare em latim, prender pelos pés, que poderia ter seu uso estendido para albergar a nova acepção, mas quem usa optou por algo mais colorido e que lembra um pouco o cômico pinchar.

Tuesday, July 10, 2012

Linguíça

Outro dia vi um cartaz de uma lanchonete com esta grafia: linguíça. Claro que oficialmente está errada. No Brasil, antes do Acordo Ortográfico, era lingüiça, que passou a linguiça, única forma que será considerada correta a partir de 1 de janeiro do ano que vem. Mas o que me interessa é a motivação da pessoa em pôr o acento. Faz sentido. Na cabeça da pessoa, linguiça sem acento provavelmente seria pronunciado lingúiça, com ui como em cuidado. Para desfazer esse ditongo, seria necessário o acento no i, o mesmo que se encontra em palavras como Tatuí, açaí e baú. É que não recorreram a esse expediente, mas poderiam ter oficializado esse uso do acento agudo em lugar do trema para distinguir o u pronunciado dos grupos que, qui, gue, gui, mas é que o que faríamos então com palavras como aguentar? Aguêntar não seria possível, porque o acento é na última sílaba. Agu-entar? Mas o hífen daí passaria a marcar um hiato inexistente. Agoentar seria uma opção, já que muitas vezes em sílaba átona pronunciamos o o como u, como em mágoa. Só sei que não gostei de terem suprimido o trema, mas ninguém veio perguntar-me o que acho disso. Eu só tenho de acatar a resolução se quero escrever corretamente. É muito difícil explicar principalmente a estrangeiros que estão aprendendo português que guerra e guitarra não têm a mesma pronúncia que aguentar e pinguim (antes agüentar e pingüim), que querela e quilo não se pronunciam como sequela e tranquilo (antes seqüela e tranqüilo). Como se já não bastassem os sons do x!

Sunday, July 8, 2012

Pharynx and larynx

Funny how not only the Greek words pharynx and larynx, derivatives of which are used in all Romance languages and in English, are confusing as they have only the first sound different, but in several Slavic words the two corresponding words are also similar.

For pharynx, in Czech and Slovak you have hltan, in Polish gardło, in Croatian ždrielo, in Slovenian žrelo, in Macedonian goltnik (голтник), in Bulgarian gl'tač (гълтач), Russian and Ukrainian glotka (глотка).

For larynx, there is Czech and Slovak hrtan, Polish krtań, Croatian grkljan, Slovenian grlo, Macedonian grklan (грклан), Bulgarian gr'kljan (гръклян), Russian and Ukrainian gortaň (гортань).

Wednesday, July 4, 2012

Slavic transgressives


I was under the impression that one of the factors why transgressives are nowadays not widely used in Czech is their complexity and their inflexions for gender and number. Like Polish and Russian, Slovak transgressives, as I have learned recently, in spite of their relative simplicity, seem to be used even less than in Czech.

A Polish sentence like
Słuchając muzyki, czytał/czytała/czytali/czytały (Listening to music, he/she/they (males or mixed group)/they (females only) read (past tense)
where słuchając is the trangressive of the verb słuchać, to listen, would have only one possible transgressive in Russian:
Слушая музыку, читал/читала/читали. In very rough transliteration and following a Slavic pattern: Slušaja muzyku, čital/čitala/čitali, where elements around slashes refer to a male, a female and plural,

and also only one form in Slovak:
Počúvajúc hudbu/muziku, čítal/čítala/čítali (elements around slashes as in Russian above)

But three different transgressives in Czech according to the gender and number of the subject to which they refer:
Poslouchaje hudbu/muziku, četl si  (he read)
Poslouchajíc hudbu/muziku, četla si. (she read)
Poslouchajíce hudbu/muziku, četli si. (they read – males or mixed group)
Poslouchajíce hudbu/muziku, četly si. (they read – females only)
Poslouchajíce hudbu/muziku, četla si. (they read – plural neuter)  It could be girls, děvčata, for example.

Muzika is a more colloquial word than hudba both in Czech and in Slovak.

Monday, July 2, 2012

Brigaderia

Palavra com que entrei em contato recentemente e outra a que, como cosmiatria, comeram letras no meio. De brigadeiro mais eria (ou aria), que o Houaiss define como "suf.  de -eiro + -ia (donde resulta igualmente -aria); ocorre 1) para designar profissão, cargo: almocrevaria, engenharia; 2) para designar oficina, estabelecimento: cervejaria, peixaria; 3) para designar ação ou caráter de alguém: mesquinharia; 4) para designar coletivo, coleção: flecharia, " teríamos brigadeireria, mas essa forma parece não ter pegado, pelo menos a julgar pela sua ausência na Internet. Impôs-se-lhe a forma mais curta, brigaderia, que, em rigor, seria um lugar onde se encontram ou fazem brigadas, não brigadeiros.