Já comentei, aqui, que a Folha adapta a ortografia deste jornalista português, mas interessante que não mexe no vocabulário. No texto em apreço, há duas palavras de uso raro no Brasil (pelo menos segundo a minha parca experiência): climatérico em vez de climático (E que a história, desde o começo dos tempos, me tinha ensinado apenas que nada existe de novo debaixo do sol. Brutais alterações climatéricas?) e glaciar em vez de geleira (Com os glaciares a derreterem (no polo norte, não no polo sul; mas divago) e as águas a devorarem a terra, não haverá futuro para ninguém.). Não entendo, é muito mais fácil um brasileiro entender fenómeno em vez de fenômeno (talvez até nem repare) do que alguma das palavras acima. Toca-se no que não tem necessidade e deixa-se o que poderia não ser compreendido por todos.
Glaciar, segundo o Houaiss, é de 1899 e climatérico relacionado com clima, de 1882. Interessante que ambas as palavras são de origem francesa. Tenho notado bem mais galicismos em Portugal do que no Brasil. Outro exemplo? No Brasil: tela (século XIII); em Portugal: ecrã (do francês écran). Esta o Houaiss nem registra, mas deve ter vindo de França, como preferem os portugueses, no século XVIII ou XIX.
Não que isto signifique muito, mas algum valor terá: o meu corretor ortográfico para português do Brasil não reconhece nem climatérico nem ecrã. Se ponho para português de Portugal, reconhece todas as palavras deste comentário.
Um exemplo colhido em 19 de fevereiro:
Eu não conhecia impreparado, só despreparado. Dos três dicionários brasileiros consultados, Houaiss 2009, Michaelis e Aulete digital, só o último registra o termo. Este dicionário português abona o adjetivo. Todas as quatro ocorrências de impreparad* (o asterisco indica que também entram na lista formas como impreparadas, impreparados, etc.) são de Portugal. Todos os sete livros que aparecem na primeira página do Google Livros são de Portugal (ou um de Moçambique), nenhum do Brasil. Portanto, julgo podermos afirmar que impreparado tem escassíssimo uso no Brasil, apesar de, é claro, o prefixo in (aqui na forma im) ser transparentíssimo para qualquer leitor.
Fugindo do assunto, poderia ter-se evitado nigger-hater, que não me consta tenha circulação em português, e ter-se optado por não passa de alguém que odeia/que tem preconceito contra negros ou algo parecido. Querendo ser muito fantasiosos, poderíamos inventar misomélano (miso - odiar + melano - negro, cf. melanina).
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