Word of the Day

Wednesday, June 1, 2011

Bem-fazer, benfazer e outras reclamações

Vale a pena ler isto primeiro: http://ciberduvidas.pt/pergunta.php?id=29634

Sei da existência disto: Emprega-se o hífen nos compostos com os advérbios bem e mal, quando estes formam com o elemento que se lhes segue uma unidade sintagmática e semântica e tal elemento começa por vogal ou h. No entanto, o advérbio bem, ao contrário de mal, pode não se aglutinar com palavras começadas por consoante. Eis alguns exemplos das várias situações: bem-aventurado, bem-estar, bem-humorado; mal-afortunado, mal-estar, mal-humorado; bem-criado (cf. malcriado), bem-ditoso (cf. malditoso), bem-falante (cf. malfalante), bem-mandado (cf. malmandado), bem-nascido (cf. malnascido), bem-soante (cf. malsoante), bem-visto (cf. malvisto).

Não vejo lógica nenhuma em escrever benfazejo mas bem-fazer. Ademais, se existe o verbo bendizer, por que bem-fazer? É possível que se aceite bem-fazer por existir o substantivo bem-fazer, mas normalmente o que acontece é o contrário, é verbo que é possível usar como substantivo (o caminhar faz bem), fenômeno conhecido como derivação imprópria. Menos mal que benfazer também é registrado em alguns dicionários, mas deveria aparecer em todos e deveria dar-se prioridade a ele. Outra doidice é escrever bem-querer mas benquerença. Que bagunça é essa? Por que criar tantas exceções se o intuito é pôr ordem no caos? Eu sou a favor da simplificação total. Usando os exemplos acima, proporia: bencriado, benditoso, benfalante, bensoante, benvisto. Bem-mandado e bem-nascido teriam de continuar assim por não haver dois mm e mn com o primeiro elemento com som nasal. Em Portugal existem comummente e amnistia, no Brasil grafadas comumente e anistia. Também poderia passar-se a escrever benvindo (Benvindo ao Brasil), coisa que aliás muita gente (erroneamente) já faz. Não me convence o argumento de que Benvindo é nome próprio e que assim se distingue da locução adjetiva bem-vindo. Não são poucos os casos de polissemia na língua. As nossas línguas irmãs não têm pejo nenhum em escrever bienvenido (espanhol), benvenuto (italiano), benvingut (catalão), bienvenue (francês), binevenit (romeno), etc.

Outra coisa completamente doida é escrever para-brisa e para-choque, mas paraquedas ("Certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição, grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, etc."). Não sei se todo mundo, mas eu noto o verbo parar tanto em para-brisa quanto em para-choque (antes do Acordo: pára-brisa e pára-choque), mas também em paraquedas (antes do Acordo: pára-quedas).

Que fique bem claro que não estou dizendo que se deva escrever da forma como eu proponho. Nem eu me atreveria a escrever assim. Estou simplesmente apontando algumas falhas da ortografia oficial.

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