Word of the Day

Wednesday, December 16, 2015

Oba-oba da ênclise

Leão Tolstói abre seu "Anna Kariênina" afirmando que todas as famílias felizes parecem-se entre si; já as infelizes o são cada uma à sua maneira.

Os brasileiros devem achar, por a ênclise não ser muito usada na fala espontânea no Brasil, que basta usá-la para o texto ficar mais formal. Não é bem assim, há regras para isso, não é usar a torto e a direito. Na frase acima o correto seria afirmando que todas as famílias felizes se parecem entre si, já que que, aí conjunção integrante, é fator de próclise.

Pelo menos o trecho mostra como essa questão de colocação pronominal há décadas (séculos?) não faz parte da gramática interna que todo falante nativo traz consigo. Pois bem, mas então não é melhor seguir o próprio instinto e usar a próclise, que seria a escolha espontânea do brasileiro e o correto no fragmento acima? Por que querer complicar tanto quando se escreve? Insegurança? Hipercorreção?

Esta discussão lembra-me (ênclise bem usada) a fatídica frase encontrada em vários elevadores no Brasil: "Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado no andar". Outros já implicaram com ela antes de mim: https://www.google.com/search?q=verifique+se+o+mesmo+encontra-se&ie=utf-8&oe=utf-8

Outro exemplo recolhido dias depois: A resposta é tanto mais difícil e desalentadora, pois o Brasil é hoje país em que impera a "micropolítica" do conchavo e da autopreservação –e onde acumula-se imenso déficit da "macropolítica" dos grandes interesses nacionais.

Mais outro: apenas publica-se o tempo todo imagens e mensagens   

Mais outro: Mal fecham-se as portas e já estou atônito.

Talvez o pior de todos: A “irjaa” não tornou-se um conceito corrente no islã, e foi derrotada pela ideia de que a fé tem de ser obrigatoriamente declarada.  

E dois exemplos no mesmo parágrafo: Também a Europa encontra-se longe de um cenário harmonioso. Se a crise econômica parou de piorar, os desafios vêm de uma eventual saída do Reino Unido da dinâmica de integração continental (o que a imprensa em língua inglesa chama de "Brexit"), do atordoante fluxo migratório e do tipo de liderança que a Alemanha está disposta a exercer na União (dilema que os próprios alemães esquivam-se de responder).

Encontrei mais este: Mas por que os coxinhas agora tornaram-se tão notórios? e mais este: porque a estrutura de classes sociais tornou-se mais complexa e diferenciada. Achei este artigo motivado pela intenção de entender o que é coxinha, não a comida, que já conheço faz tempo.  

Mais um: Ainda segundo o advogado, a defesa argumentará que a prisão deu-se por "meio enganoso de prova".

Um de 6 de fevereiro de 2016: Talvez até por motivos diversos dos elencados acima, como uma incapacidade de se organizar fora de um ambiente estritamente profissional ou pela sensação de que, como encontra-se "em casa", esteja trabalhando de menos quando na verdade já o faz demais. 

Mais um: Passaram-se nove anos ao longo dos quais Cabral reelegeu-se e emplacou o governador Luiz Fernando Pezão para sucedê-lo.   

Colhido em 30 de março de 2016: Espero que ninguém sinta-se ofendido a menção a porcos. Esse texto homenageia "A Revolução dos Bichos", de George Orwell, onde os porcos são protagonistas.

Exemplo encontrado em 27 de abril de 2016: Em homenagem a Cabral, há uma avenida com o seu nome, onde encontra-se uma estátua em alusão ao descobrimento do Brasil, doada pelo governo brasileiro, em 1941.

Do mesmo artigo do onde encontra-se, acima: cujos restos mortais encontram-se no imponente Mosteiro dos Jerónimos, também na capital portuguesa.  

De um famoso provedor de internet: Basta conferir a sua Fatura Digital que encontra-se anexa.
Uma vírgula aí também não faria mal.

Visto em 18 de abril de 2017 na Isto É: Alexandrino contou que reuniu-se com o filho do ex-presidente e lhe disponibilizou três suportes. Já que é para "caprichar", por que não escreveu também disponibilizou-lhe?

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