Word of the Day

Saturday, January 30, 2016

Ordenar a atacar

Mansur disse ter ordenado quatro atiradores a atacar a universidade como forma de se vingar da ofensiva das forças de segurança paquistanesas contra os insurgentes nos últimos meses. 

Não me lembro de ter visto esta construção: ordenar alguém a algo, só ordenar a alguém algo. Para mim seria disse ter ordenado a quatro atiradores atacar ou disse ter ordenado que quatro atirados atacassem. Deve ter havido cruzamento sintático com obrigar: disse ter obrigado quatro atiradores a atacar.

Thursday, January 28, 2016

Hype

O hype em torno da oferta de papel higiênico em tantas cores chegou também ao mundo do design e da moda

Duvido que quem não fala inglês saiba o que é hype. Acho até que muitos que falam (ou creem falar inglês) tampouco sabem do que se trata. O que há de errado com falatório, promoção, publicidade ou propaganda?

Sunday, January 24, 2016

Barriga negativa

Acabei de descobrir barriga negativa, que achei bem engraçado:

Os tão sonhados resultados da musculação —pernas grossas, barriga negativa, bumbum durinho.

Sinto dizer que a minha é bem positiva.

Friday, January 22, 2016

Sugerir mais subjuntivo com valor de dar a entender

Embora o acervo do museu seja virtual, portanto passível de recuperação por backup, os destroços do prédio sugerem que a visitação pública vá ser interrompida por longo tempo. 

Para mim, sugerir seguido de subjuntivo significa recomendar, querer, propor algo: sugiro que considerem o meu caso. Já sugerir seguindo de indicativo significa insinuar, dar a entender, fazer parecer. Para mim, os destroços do prédio dão a entender/sugerem/indicam/ que a visitação pública será/vai ser interrompida; do jeito que está escrito, é quase como se os destroços quisessem que os visitantes não aparecessem.

Wednesday, January 20, 2016

Ausência de adaptações "folheanas", desta vez

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/joaopereiracoutinho/2016/01/1725774-o-clima-no-diva.shtml

Já comentei, aqui, que a Folha adapta a ortografia deste jornalista português, mas interessante que não mexe no vocabulário. No texto em apreço, há duas palavras de uso raro no Brasil (pelo menos segundo a minha parca experiência): climatérico em vez de climático (E que a história, desde o começo dos tempos, me tinha ensinado apenas que nada existe de novo debaixo do sol. Brutais alterações climatéricas?) e glaciar em vez de geleira (Com os glaciares a derreterem (no polo norte, não no polo sul; mas divago) e as águas a devorarem a terra, não haverá futuro para ninguém.). Não entendo, é muito mais fácil um brasileiro entender fenómeno em vez de fenômeno (talvez até nem repare) do que alguma das palavras acima. Toca-se no que não tem necessidade e deixa-se o que poderia não ser compreendido por todos.

Glaciar, segundo o Houaiss, é de 1899 e climatérico relacionado com clima, de 1882. Interessante que ambas as palavras são de origem francesa. Tenho notado bem mais galicismos em Portugal do que no Brasil. Outro exemplo? No Brasil: tela (século XIII); em Portugal: ecrã (do francês écran). Esta o Houaiss nem registra, mas deve ter vindo de França, como preferem os portugueses, no século XVIII ou XIX.

Não que isto signifique muito, mas algum valor terá: o meu corretor ortográfico para português do Brasil não reconhece nem climatérico nem ecrã. Se ponho para português de Portugal, reconhece todas as palavras deste comentário.

Um exemplo colhido em 19 de fevereiro:
 
Eu não conhecia impreparado, só despreparado. Dos três dicionários brasileiros consultados, Houaiss 2009, Michaelis e Aulete digital, só o último registra o termo. Este dicionário português abona o adjetivo. Todas as quatro ocorrências de impreparad* (o asterisco indica que também entram na lista formas como impreparadas, impreparados, etc.) são de Portugal. Todos os sete livros que aparecem na primeira página do Google Livros são de Portugal (ou um de Moçambique), nenhum do Brasil. Portanto, julgo podermos afirmar que impreparado tem escassíssimo uso no Brasil, apesar de, é claro, o prefixo in (aqui na forma im) ser transparentíssimo para qualquer leitor.
 
Fugindo do assunto, poderia ter-se evitado nigger-hater, que não me consta tenha circulação em português, e ter-se optado por não passa de alguém que odeia/que tem preconceito contra negros ou algo parecido. Querendo ser muito fantasiosos, poderíamos inventar misomélano (miso - odiar + melano - negro, cf. melanina).

Sunday, January 17, 2016

Primus in orbe Deos fecit timor

"Primus in orbe Deos fecit timor (Petrônio). O medo criou o primeiro Deus. 

Eliminando a ideia de um Deus todo poderoso, praticamente o passado não pode ser entendido em qualquer questão histórica ou ontológica.

A tradução não é bem assim nem a implicação é a que se vê no segundo parágrafo. O correto seria No mundo o medo criou primeiro os deuses ou Foi primeiro o medo que criou os deuses no mundo. Primus (nominativo singular masculino) concorda aí com timor. Deos está no acusativo plural. Para corresponder à tradução do colunista, o original teria de ser Primum in orbe Deum fecit timor, em que primum é acusativo singular masculino, concordando com Deum, o que implicaria que os antigos romanos eram monoteístas!

Monday, January 11, 2016

Artigos antes de nomes de pessoa

Não é errado usar os artigos antes de nomes de pessoas, como muitas vezes pensa quem é do Norte e Nordeste do Brasil, mas é verdade que, por escrito, mesmo quem os usa espontaneamente na fala, como é o caso, pelo que sei, dos nascidos em toda a região sul, em São Paulo e em Minas Gerais, os evita na escrita, talvez para retirar o ar de familiaridade que os artigos conferem às pessoas mencionadas. No entanto, desta vez um artigo escapou à jornalista, que não o usou em outros casos na mesma matéria: O ortopedista procurado pela Beatriz chegou a prescrever um mês sem celular.

Saturday, January 9, 2016

Wednesday, January 6, 2016

Karaokê e skate

Para tal, almoçaremos em mesas na calçada, beberemos cerveja, venderemos barato nossa alegria, seremos gentis com quem não nos conhece, trocaremos intimidades e ainda terminaremos num karaokê. 

Pode escrever caraoquê. Está registrado, por exemplo, no Houaiss 2009:

caraoquê
n substantivo masculino
1    tipo de espetáculo no qual qualquer pessoa pode cantar ao microfone, acompanhada pelos músicos da casa ou por fundos instrumentais gravados
2    aparelho sonoro ou audiovisual que reproduz fundos instrumentais de músicas para acompanhar quem canta ao microfone
2.1    função semelhante a essa em aparelhos com outras finalidades, como o DVD
3    estabelecimento comercial que oferece esse tipo de entretenimento, ao vivo ou com aparelhos

Ao seu lado, um grupo de adolescentes com ar festivo, um deles carregando um skate, faz com que ele pareça ainda mais só. 

Parece que os portugueses preferem caraoque, o que indica que para eles a sílaba tônica é a penúltima. Essa incerteza sempre se dá com palavras japonesas, já que a sílaba tônica japonesa não é forte como a nossa e cada pessoa/língua/tradição a ouve de forma diferente. Quem quiser saber a pronúncia original japonesa, é só escutar aqui.

Mesma coisa com skate. Pode escrever esqueite:

esqueite
n substantivo masculino
Regionalismo: Brasil.
1    Rubrica: ludologia.
prancha estreita (de madeira ou resina, p.ex.) dotada de dois eixos com duas rodas cada, sobre a qual alguém se equilibra e desloca, podendo executar saltos, figuras etc., com movimentos e postura semelhantes aos do surfe
2    Rubrica: esportes.
o esporte assim praticado

Monday, January 4, 2016

Enriquecer-se

O mercado de bens de significado (marketing existencial) cresce a cada dia, a (sic) medida que a sociedade se enriquece.

Primeira vez que vejo enriquecer como pronominal neste caso. O Houaiss também não o registra:

n verbo
 transitivo direto e intransitivo
1    fazer ficar ou ficar rico
Exs.: o trabalho não costuma e. ninguém
 enriqueceu vendendo terrenos
 transitivo direto, intransitivo e pronominal
2    Derivação: sentido figurado, por extensão de sentido.
tornar(-se) maior, melhorando; tornar(-se) abundante; aumentar, desenvolver(-se)
Exs.: resolveu e. o texto com frases de efeito
 seu vocabulário enriqueceu(-se) com a leitura
 transitivo direto
3    Derivação: sentido figurado.
tornar mais belo; ornar, enfeitar, abrilhantar
Ex.: o vestido de seda enriquecia-lhe a figura
 transitivo direto
4    tornar nobre; enobrecer
Ex.: boas ações enriquecem a vida
 transitivo direto
5    elevar a concentração de um componente puro de (uma substância, um produto)
 transitivo direto
6    adicionar elementos que elevam o valor nutritivo de (um alimento)


Enriquecer-se aparece na acepção 2, não na 1.

Encontrei três exemplos do verbo enriquecer-se pronominal no Córpus do Português:

No anno seguinte nasceo Ennio, (46) que em versos mal limados deu ouro de que Virgilio confessava que se enriquecia.

Considerai quantos estão banidos da sua pátria pela sua própria avareza, que é ainda maior tirania, porque a fim de se enriquecerem se expõem a mil perigos, sofrendo infinitas incomodidades.

o Sincorá, onde se enriquecera com a compra de diamantes, viera à Bagagem continuar na mesma especulação, e examinar e explorar este novo descoberto.

Saturday, January 2, 2016

Crase

precisa rumar em direção à uma economia intensiva em tecnologia. 

Este não tem noções de crase. Perdoa-se o erro ao pedreiro João da Silva, mas a um jornalista? Seu instrumento são as palavras!