Word of the Day

Sunday, June 26, 2011

Chupando com uma palhinha

Estou lendo O Fio da Navalha, "The Razor's Edge", de W. Somerset Maugham, traduzido por Lígia Junqueira Smith. O livro está bem traduzido na maior parte das vezes, mas quando está mal traduzido, está mal traduzido mesmo. Vejam isto:

Acendi um cigarro e esperei, observando Isabel que, com aparente satisfação, chupava o seu refresco por meio de uma longa palhinha.


Por meio de uma longa palhinha? Se eu não soubesse inglês, acho que não teria entendido o excerto. Apareceu (little) straw no original, que de fato é palha, mas aqui é nada mais nada menos do que o nosso famoso canudinho. Como uma palavra tão simples pôde ter confundido a tradutora?

Friday, June 24, 2011

Corredor, corretor, corrector

Corredor em português pode ser uma parte de um edifício, uma pessoa que corre ou alguém que corrige; já em espanhol corredor é tanto a pessoa que corre quanto um corretor (de imóveis, por exemplo). Antes do Acordo Ortográfico em Portugal escrevia-se corretor (de imóveis) e corrector (de texto), distinção que se perde com o Acordo. Parece que há uma diferença de pronúncia nesse país: corretor tem um e bem fraquinho e corrector tem o e aberto. Em alemão Läufer, do verbo laufen (andar, correr), pode ser tanto alguém que corre quanto passadeira, tapete estreito que se estende em corredores :) e escadas. Läufer também significa bispo, mas só o do xadrez.

Tuesday, June 21, 2011

Já visto

É um interessante que um livro de 1913, A confissão de Lúcio, traga a forma já visto enquanto nós, modernos, às vezes fazemos uso de déjà vu:

Enfim, para me entender melhor: esta sensação é semelhante, ainda que de sentido contrário, a uma outra em que provavelmente ouviu falar (que talvez mesmo conheça), a do já visto. Nunca lhe sucedeu ter visitado pela primeira vez uma terra, um cenário, e, numa reminiscência longínqua, vaga, perturbante, chegar-lhe a lembrança de que, não sabe quando nem onde, já esteve naquela terra, já contemplou aquele cenário?...

Friday, June 10, 2011

She

From Blooming English, by Kate Burridge:

Via ordinary sound change, Old English hē 'he' and hēo 'she' would have collapsed into one form. We would therefore have had one pronoun meaning both 'he' and 'she'. The arrival of she overcame this ambiguity. But where did it come from?


I wonder if Dutch zij/ze or German sie had anything to with it.

Wednesday, June 1, 2011

Bem-fazer, benfazer e outras reclamações

Vale a pena ler isto primeiro: http://ciberduvidas.pt/pergunta.php?id=29634

Sei da existência disto: Emprega-se o hífen nos compostos com os advérbios bem e mal, quando estes formam com o elemento que se lhes segue uma unidade sintagmática e semântica e tal elemento começa por vogal ou h. No entanto, o advérbio bem, ao contrário de mal, pode não se aglutinar com palavras começadas por consoante. Eis alguns exemplos das várias situações: bem-aventurado, bem-estar, bem-humorado; mal-afortunado, mal-estar, mal-humorado; bem-criado (cf. malcriado), bem-ditoso (cf. malditoso), bem-falante (cf. malfalante), bem-mandado (cf. malmandado), bem-nascido (cf. malnascido), bem-soante (cf. malsoante), bem-visto (cf. malvisto).

Não vejo lógica nenhuma em escrever benfazejo mas bem-fazer. Ademais, se existe o verbo bendizer, por que bem-fazer? É possível que se aceite bem-fazer por existir o substantivo bem-fazer, mas normalmente o que acontece é o contrário, é verbo que é possível usar como substantivo (o caminhar faz bem), fenômeno conhecido como derivação imprópria. Menos mal que benfazer também é registrado em alguns dicionários, mas deveria aparecer em todos e deveria dar-se prioridade a ele. Outra doidice é escrever bem-querer mas benquerença. Que bagunça é essa? Por que criar tantas exceções se o intuito é pôr ordem no caos? Eu sou a favor da simplificação total. Usando os exemplos acima, proporia: bencriado, benditoso, benfalante, bensoante, benvisto. Bem-mandado e bem-nascido teriam de continuar assim por não haver dois mm e mn com o primeiro elemento com som nasal. Em Portugal existem comummente e amnistia, no Brasil grafadas comumente e anistia. Também poderia passar-se a escrever benvindo (Benvindo ao Brasil), coisa que aliás muita gente (erroneamente) já faz. Não me convence o argumento de que Benvindo é nome próprio e que assim se distingue da locução adjetiva bem-vindo. Não são poucos os casos de polissemia na língua. As nossas línguas irmãs não têm pejo nenhum em escrever bienvenido (espanhol), benvenuto (italiano), benvingut (catalão), bienvenue (francês), binevenit (romeno), etc.

Outra coisa completamente doida é escrever para-brisa e para-choque, mas paraquedas ("Certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição, grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, etc."). Não sei se todo mundo, mas eu noto o verbo parar tanto em para-brisa quanto em para-choque (antes do Acordo: pára-brisa e pára-choque), mas também em paraquedas (antes do Acordo: pára-quedas).

Que fique bem claro que não estou dizendo que se deva escrever da forma como eu proponho. Nem eu me atreveria a escrever assim. Estou simplesmente apontando algumas falhas da ortografia oficial.